Enquanto
guardo uma lembrança pensando ser um pedaço de mim, que aprisionado parece ser
algo que por um momento usei e fui. Guardo apenas uma sombra do que
provavelmente tenha sido, e que de muito longe, sequer parece mais comigo.
Eu
fui, talvez, apenas talvez, o pedaço que guardo de mim. Não continuo sendo.
Pode ser que nem sequer tenha sido o que penso que fui.
Mas
guardo como um precioso pedaço que dura para sempre. Ainda que fosse eu, agora
seria o quê? Um pedaço petrificado, mumificado, travado nas linhas do tempo e
espaço. Resumido apenas na lembrança que guarda. Definitivamente não.
Uma
fotografia, um livro com dedicatória, uma peça de roupa, um bilhete manuscrito,
um ingresso de show, um objeto… Não é mais o que pensa que aprisiona, é só a
lembrança de algo que foi ou do que queria que tivesse sido. Enfim, não é mais.
Seja agora a versão mais nova daquilo tudo. Uma obra-prima inacabada, seu autor é o
hoje. Não o ontem, e será por certo o amanhã. Agora sei. Obra inacabada ainda,
que neste momento é algo apenas parecido com a lembrança que tenho de mim.
Lembranças que são apenas pistas do que andei me transformando. Jogue
fora o máximo que puder.
Abandonando
aquilo que ainda gostaria que fosse, posso ser o que sou. Permita-me. Enquanto
me tenho ali preso nas gavetas e armários, sou algo irreal que não pode se
transformar. Acredito guardar a mim, mas guardar você mesmo protegido na
lembrança feliz do que era, sem encontrar o futuro e o que pode vir a ser?
A
única coisa certa, é que não se consegue impedir o novo. Pode-se deixar de
vivê-lo. Mesmo assim, a realidade já não é mais esta. É aquela desconhecida da
qual me protejo. O novo também ficará velho. Quanto a isso, também tenho medo,
confesso. Não tenho lembranças do que ainda está por vir. Ainda não sobrevivi
ao que virá, a única certeza é que o novo vem.
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