domingo, 15 de abril de 2012

Reflexões sobre estar triste!




E se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair, se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? 





Você vai dizer  "te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre
fui " 
velha de guerra". 



Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu terapeuta.


A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legitimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. 


Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições  
as razões têm essa mania de serem discretas. 

Todos ficam tristes, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora  Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que no estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pilulas mágicas para camuflar nossa introspeção, nem aceitar convites para festas em que 
nada temos para brindar.




Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor— até que venha a próxima, normais que somos, vamos ter várias! 






Um comentário:

Andrea Machado disse...

Vamos ter muitas tristezas, muitas alegrias ... Esse é o ciclo da vida e ninguém pode privar-se deles. São elas que nos tornam o que somos! São elas que nos fazem vivos! Vamos brindar a nostalgia, a alegria e as coisas da vida. Afinal, estamos vivos e somos livres para sentirmos o que quisermos. Agora, por exemplo, estou triste com o Governo Federal. Estou triste com a votação do STF que livrou uma quadrilha pelo delito já provado de 'formação de quadrilha'. Estou triste porque sei que a Copa no Brasil vai provocar muitos vexames para nós brasileiros! Mas, a vida é assim: alegre e triste. E viva todos os sentimentos!!!!!